Tenho falado desde há muito das qualidades e praticidade da embalagem conhecida pela sigla BIB-Bag In Box, literalmente, sacola na caixa!
Pois bem, sem entrar novamente na discussão teórica, explicativa ou mais técnica, quero aqui relatar a experiência que o IBRAVIN-Instituto Brasileiro do Vinho, fez recentemente, colocando à prova, e às cegas, na SBAV-RJ-Sociedade dos Amigos do Vinho, seção RJ.
Como verão abaixo, o vinho branco foi o mais cotejado, até pela explicação que tenho sempre mencionado, de que se há um tipo de vinho que se beneficia desta embalagem, é o branco, pois não sofre com os efeitos danosos da luz e do oxigênio, muito mais prejudiciais aos brancos que aos tintos, que têm taninos a protegê-los, sem contar que normalmente as garrafas de tintos são escuras, e a dos brancos, transparentes em sua maioria.
Na foto, com crédito de Orestes de Andrade Jr, vemos Diego Bertolini, gerente de Promoção e Marketing do IBRAVIN.
Mas vamos ao relato:
Uma degustação inédita de vinhos em bag-in-box (Bib) foi realizada pela Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho (Sbav-Rio) nesta segunda-feira (22) à noite, no Rio de Janeiro, em parceria com o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). Para evitar o preconceito contra esta nova embalagem, o convite enviado pela Sbav-Rio chamava para uma degustação às cegas (sem mostrar os rótulos) de “vinhos descomplicados para o sua dia-a-dia”. Ao todo, 20 enófilos compareceram, lotando a sala de degustação da entidade. Foram servidos oito vinhos, sendo sete brasileiros, enviados pelo Ibravin, que, por sua vez, possibilitou a participação de todas as vinícolas interessadas.
“A despeito do preconceito reinante, a embalagem bag-in-box ganha espaço crescente no cenário internacional, pois permite ganho de escala na distribuição e comercialização de vinhos jovens”, afirma o jornalista Affonso Nunes, sócio da Sbav-Rio. “É uma boa opção para quem deseja beber uma ou duas taças de vinho ao dia e não precisa se preocupar em ter de dar fim a uma garrafa aberta na véspera – o vinho em bag-in-box conserva-se com qualidade por mais de um mês depois de aberto”, acrescenta Nunes. “É, portanto, uma importante ferramenta na política de popularização do consumo de vinho no Brasil porque alavanca sua disseminação no mercado”.
Além dos rótulos nacionais, três brancos e quatro tintos, em embalagens bag-in-box de 3 e 5 litros, integrou a degustação um vinho português. Na apresentação inicial, o consultor Homero Sodré disse que uma degustação às cegas é um exercício de humildade, pois obriga o degustador a usar os seus sentidos e o seu conhecimento sem qualquer informação preliminar, despindo a análise de preconceitos. Sodré ainda ressaltou que os vinhos que seriam apreciados tinham propostas despretensiosas e eram voltados para o consumo cotidiano, sem pretensões de guarda ou evolução. “São vinhos talhados para o dia a dia”, avisou.
A degustação foi aberta com três vinhos brancos. Os enófilos apostaram que estavam provando vinhos gregos, chilenos e até neozelandeses. Uma participante garantiu que havia vinhos tops brasileiros, acima de R$ 150. Outro degustador cogitou ter ingerido um vinho da casta torrontés, típica da Argentina. No final – para surpresa de todos – foram revelados os rótulos oferecidos: o moscato Jota Pe, da Perini; o chardonnay Marcus James, da Aurora; e o Miolo Seleção, um corte de chardonnay com viognier cultivadas na Campanha Gaúcha. Os três vinhos foram aprovados pelos degustadores, que exaltaram a diversidade e qualidade dos produtos. “Foi de cair o queixo. Amei. Estou completamente surpresa. Tenho muito preconceito contra o bag-in-box, porque acho uma embalagem sem glamour. Aliás, se soubesse que era uma degustação de vinhos em bag não teria vindo. Mas saí da degustação renovada e despida de preconceito”, confessou Ana Maria Brandão Magalhães.
Nos tintos, a qualidade média se manteve, apesar da reação ter sido menos empolgante do que com os brancos. A não ser no momento em que foi informada a origem da embalagem dos vinhos, em bag-in-box, quando muitos chegaram a aplaudir. De novo as opiniões ouvidas sobre a origem dos vinhos foi ampla, com citações do Chile, Argentina, Itália, Austrália e África do Sul. Os destaques foram o Dom Cândido Cabernet Sauvignon 2006; o Alto Vale Cabernet Sauvignon 2009 (Domno) e o Do Lugar Merlot-Cabernet Sauvignon (Dal Pizzol). Também foram servidos os vinhos Tre Fradéi Cabernet Sauvignon e o português Redondo, do Alentejo. “Foi uma experiência espetacular. A vitivinicultura brasileira me surpreende a cada dia”, disse Carlos Henrique Berendonk. “Achei este exercício sensacional. Foi muito bom ter participado. Foi esclarecedor. Confesso que tinha preconceito contra a caixinha. E agora não tenho mais, inclusive vou procurar conhecer outros vinhos”, comentou Bernardo Soares. “O resultado foi impressionante, os participantes deixaram o evento dizendo terem perdido o preconceito contra os vinhos bag-in-box”, avalia o gerente de Promoção e Marketing do Ibravin, Diego Bertolini.
Democratização do consumo
No encerramento do encontro, o gerente de Promoção e Marketing do Ibravin, Diego Bertolini, destacou que, “pela praticidade, economia e segurança, a embalagem bag-in-box desempenha um papel importante na democratização do consumo de vinho no Brasil”. Segundo ele, as vendas de vinhos brasileiros em embalagens bag-in-box (bolsa na caixa, em tradução livre) aumentaram mais de 11 vezes em apenas um ano. Em 2008, foram comercializados apenas 85,29 mil litros de vinho em bag-in-box (Bib). No ano passado, o volume saltou para 976,43 mil litros, segundo dados apurados pelo Ibravin. “Atualmente, temos 56 vinícolas brasileiras vendendo vinho em bag-in-box”.
No Brasil, a bag-in-box tem uma história recente, de apenas cinco anos. As estatísticas oficiais, porém, só começaram a ser feitas em 2008. “Estimamos que, atualmente, já sejam produzidos pelo menos 2 milhões de litros de vinho em bag”, calculou Bertolini. “As empresas ainda não se acostumaram a informar esta nova modalidade de envase. Estamos apenas começando, tendo um futuro promissor pela frente”. Hoje, cerca de 1% do total de vinho engarrafado no Brasil é em Bib. Noruega, Suécia e Austrália embalam mais de 50% de seus vinhos em bags. Nos Estados Unidos, este índice chega a 20%.
Saiba mais
O grande benefício da Bib é conservar o sabor do vinho mesmo após aberto, por um período que varia de três (embalagens de três litros) a cinco semanas (cinco litros). A embalagem bag-in-box é feita de um saco de filme-plástico (poliéster flexível), acondicionado numa caixa de papelão, com uma torneira lateral. À medida que o vinho é retirado, no volume que o consumidor desejar, há uma retração natural do saco plástico atóxico, impedindo a entrada de ar, o que garante sua perfeita conservação até o consumo total.
Confira as opiniões de alguns dos enófilos que estiveram na degustação abaixo:
Carlos Henrique Berendonk, engenheiro, gerente geral de planejamento de redes da Embratel.
“Foi uma experiência espetacular. A vitivinicultura brasileira me surpreende a cada dia. Há pouco tivemos uma degustação exclusiva de vinhos sauvignon blanc, vencida por um rótulo brasileiro. Agora, somos surpreendidos por vinhos de boa qualidade em embalagem bag-in-box, o que jamais esperaríamos. Agradeço a oportunidade de aprender mais e conhecer novas possibilidades”.
Anselmo Carneiro, gerente comercial da importadora Paralelo.
“Que degustação fantástica. Só assim vamos aumentar o consumo de vinhos no Brasil. Precisamos divulgar mais a embalagem bag-in-box.”
Bernardo Soares, sócio da Sbav-Rio.
“Achei este exercício sensacional. Foi muito bom ter participado. Foi esclarecedor. Confesso que tinha preconceito contra a caixinha. E agora não tenho mais, inclusive vou procurar conhecer outros vinhos.”
Ana Maria Brandão Magalhães, assessora do Departamento de Operações do Banco Central do Brasil.
“Foi de cair o queixo. Amei. Estou completamente surpresa. Tenho muito preconceito contra o bag-in-box, porque acho uma embalagem sem glamour. Aliás, se soubesse que era uma degustação de vinhos em bag não teria vindo. Mas saí da degustação renovada e despida de preconceito.”
Clara Regina Tenrreiro.
“Foi uma proposta super original, cheia de surpresas boas. Como morei na Itália, não tinha preconceito. Adoro vinho. Não tomo refrigerante. Foi uma ótima oportunidade de adquirir mais conhecimento sobre este maravilhoso mundo do vinho.”
Parabéns a SBAV-RJ, ao IBRAVIN, que já havia quebrado paradigmas com o teste cego feito por ocasião da EXPOVIS 2010, inovando e renovando conceitos.
IBRAVIN
www.ibravin.org.br
Álvaro Cézar Galvão