Vejam o release que recebi sobre a gastronomia do amigo Vitor Sobral no Grande Hotel São Pedro, hotel escola do SENAC onde dei aulas para a turma de sommeliers.
Com sou fã do Vitor e de Fernando Pessoa, aqui vai o texto recebido seguido de uma Feliz Páscoa a todos:
Versos do poeta português inspiraram as criações do renomado chefe lusitano
O encontro da poesia com a gastronomia promete ser o ponto alto do feriado de
Páscoa no Grande Hotel São Pedro. Inspirado em versos de Fernando Pessoa, o chefe português, Vitor Sobral, elabora um jantar especial para hóspedes e visitantes, no sábado, 7 de abril, às 21 horas, no restaurante Engenho das Águas.
Homenagem ao ano de Portugal no Brasil, o evento promete trazer uma visão moderna da cultura portuguesa. Os pratos trazem a sofisticação de ingredientes tradicionais na cozinha lusitana, que aliados aos sabores nacionais traduzem a poesia de um dos principais poetas do século 20.
Vitor Sobral também ministrará um workshop gastronômico sobre bacalhau, na sexta-feira, 6, às 17 horas. Ideal para quem deseja tirar dúvidas ou conhecer um pouco mais sobre esse típico ingrediente da culinária portuguesa. Outro destaque da programação será a apresentação de fado da cantora Julianne Daud.
Menu Fernando Pessoa
Entrada: Creme frio de mandioquinha, coco e caviar
O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para adiante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão assinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
E a cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
Primeiro Prato: Camarão em salmoura, palmitos frescos confitados e vinagrete de maracujá
“Tabacaria” – Fernando Pessoa, heterônimo Álvaro de Campos
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.”
Segundo Prato: Bacalhau no forno, creme de couve-flor, tomate assado e amêndoas torradas com especiarias
“Mar português” – Fernando Pessoa
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu à pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Prato Principal: Empada de perdiz com guisado de cogumelos e alecrim
“Navegar é Preciso” – Fernando Pessoa
“Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
“Navegar é preciso; viver não é preciso”.
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a
lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.”
Prato: caça, cordeiro ou porco preto
Sobremesas: Pratão de sobremesas: Azevias de mandioca e gengibre, creme de arroz doce co canela e hortelã, creme queimado com aromas de cumaru
“Quadras ao Gosto Popular” – Fernando Pessoa
Cantigas de portugueses
São como barcos no mar —
Vão de uma alma para outra
Com riscos de naufragar.
Ai, os pratos de arroz doce
Com as linhas de canela!
Ai a mão branca que os trouxe!
Ai essa mão ser a dela!
Saudades, só portugueses
Conseguem senti-las bem.
Porque têm essa palavra
Para dizer que as têm.
Santo Antônio de Lisboa
Era um grande pregador,
Mas é por ser Santo Antônio
Que as moças lhe têm amor.
Trazes a rosa na mão
E colheste-a distraída…
E que é do meu coração
Que colheste mais sabida?
Serviço
Jantar com Vitor Sobral
Data: 7/4, sábado
Horário: às 21 horas
Endereço: Parque Dr. Otávio de Moura Andrade, s/n – Águas de São Pedro – SP
Reservas: (19) 3482-7600
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão