Meninas e meninos,
Faz algum tempo que degusto vinhos, e ainda me encanto quase todos os dias com as diferenças que estes podem apresentar, sejam de safra para safra de um mesmo rótulo, sejam as diferenças marcantes de expressão de uma mesma uva, porém com solos e climas distintos, mesmo que sejam de localidades próximas umas das outras.
Também há diferenças nas propostas dos artífices dos vinhos, os enólogos, que mesmo trabalhando as mesmas uvas, de uma mesma localidade, se propõem a fazer distintos vinho seja pelo uso de cortes com percentuais diferentes, seja pelo uso, ou não, de barricas, que podem ser desta ou daquela origem, enfim, uma gama grande de elementos que influem diretamente nos resultados finais engarrafados.
Em minha opinião, um enólogo não pode se acomodar com determinada proposta, mesmo tendo acertado em cheio em determinado rótulo, ele tem que ser inquieto, pesquisar.
Tal qual um cientista, que na verdade o é, ele tem que se aventurar por experiências e direções novas, fazer do mesmo sempre, apesar do sucesso, é desmerecer seus conhecimentos, sua capacidade, e porque não, das próprias uvas, que lá estão ávidas para serem utilizadas de maneiras variadas.
Uma das vinícolas que não “sossega”, e está em constante busca pelo novo, a Viña Ventisquero, tem sua equipe de enólogos chefiada por um amigo, daqueles que não sabemos como e nem porque, nos sentimos como nos conhecêssemos há anos, mesmo que nos tenhamos conhecido, como é o caso do Felipe Tosso, há uns quatro anos.
Outro desses enólogos da mesma equipe, que se enquadra na descrição acima é o Sergio Hormazabal, responsável pela linha de rótulos Yali da empresa. Tenho pelos dois admiração inconteste.
Voltando a falar da inquietude que move Tosso e sua equipe, tive a oportunidade ímpar de degustar em recente visita, cinco Pinot Noir e cinco Carmenères, de vales distintos.
Começando com os Pinot, e pela ordem degustada:
1-Pinot Noir 2011, amostra de barril de Lolol.
Lolol, vale do Rapel, vinhedo de encosta e com o clone 777, solos de argila vermelha com granito laranja.
2- Pinot Noir 2011, amostra de barril de Leyda.
Também de encosta, clone 777, argila vermelha e marrom, com granito e areia abaixo de 30 cm.
3- Pinot Noir 2011, amostra de barril de Huasco.
Plantado no segundo terraço da encosta, solo aluvial, pedras redondas, argila vermelha e carbonato ao redor das pedras e por entre a argila. Esta vinificação utilizou leveduras selvagens.
4- Pinot Noir 2011, bloco 34 Casablanca.
Também de encosta, muito íngreme, exposição sul, argila misturada com quartzo e ferro.
5- Pinot Noir Herú 2010, Vale de Casablanca, bloco 34, e que dependendo da parte da encosta, encontramos 3 tipos diferentes de solos, argila e granito; granito, e argila limosa com subsolo granítico.
Para os Carmenère tivemos:
1-Carmenère 2011, amostra de barril, bloco 1, Cachapoal (vinhas antigas, com média de 70 anos).
Solos com argila e areia grossa, sem irrigação.
2-Carmenère 2011, amostra de barril, bloco 12, Lolol.
Mesmo vinhedo do Pinot Noir, com rendimentos baixos, ao redor de 3.000 a 4.000 Kg/ha.
3- Carmenère 2011, bloco 23, Apalta.
Vinhedos mais altos deste vale, a 480 m, argila vermelha em profundidade e pedras grandes.
4-Carmenère 2011, bloco 5, Maipo.
Solo muito complexo com cinco camadas, sendo argila; areia grossa e pequenas pedras; granito; argila, e areia e pequenos cascalhos.
5- Grey Carmenère 2010, Maipo.
Solo com seis camadas, sendo: argila; areia grossa e pequenas pedras; granito; argila; granito e pequenas pedras e areia e pequenos cascalhos.
Analisando os Pinot, as variações por vezes sutis, outras nem tanto, o Leyda chegou aberto, exuberante, pimenta e especiarias no olfato, floral a rosas, e frutas mais maduras. Em boca, mais carnudo, confirma frutas e especiarias.
Já o Pinot Huasco, sua cor mais esmaecida, aromas de salumeria e especiarias, boca com boa acidez e frutados, chegou tímido, mas com o passar do tempo em taça foi se tornando tão exuberante que resolvi empatar os dois em primeiro lugar.
Para os Carmenères, o Lolol ganhou de Apalta, pois ambos no olfato se parecem, com frutado elegante e mineralidade, mas em boca o primeiro é exuberante, complexo, e o segundo com ligeiro amargor de final de boca, mas que não chega a comprometer, o fez perder para o de Lolol.
Tanto o Herú como o Grey são de linha, e quem sabe tenhamos novidades como o Huasco e Leyda para Pinot em breve.
Estes estudos que procuram compreender mais detalhadamente as características de cada solo, e ainda não completamente terminados, só o foram mostrados a alguns especialistas, pois sabemos avalia-los, e tendo em vista o Brasil, um mercado prioritário para exportações.
Não tenho como descrever a experiência vivida senão como uma das mais significativas e esclarecedoras, pelas quais passei, e de quebra com as explicações técnicas do Felipe Tosso, expostas de maneira que as torna simples de compreender, mesmo para quem não é enólogo.
Na foto Felipe Tosso com pedaços de solos nas mãos.
Quem importa os vinhos da Ventisquero é a Cantu
www.cantu.com.br
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão