Foto destaque da matéria: Mulher e vinhos são envolventes
Meninas e meninos,
Tenho sempre dito que para mim, os vinhos, as mulheres, as flores e a poesia, são expressões da alma, o que os torna complementos uns dos outros.
Os vinhos, nascidos das formas arredondadas naturais e plenas das uvas, lembrando a silhueta mais bela feminina.
As mulheres, a mais pura expressão da alma do poeta maior. A poesia, como tradução dos dois anteriores, e as flores expressando a beleza e força simples da natureza.
Falarei de vinhos, claro, mas antes de falar dos vinhos propriamente, quero falar um pouco de cores.
Quem nunca ouviu falar que as cores mais vivas para as roupas, sempre caem bem para as mulheres, mas nem sempre para os homens?
Que a cor rosa é feminina, e o azul masculino?
Que o amarelo é bem aceito nas mulheres, mas o dourado em especial, que representa brilho e luxo é só delas?
Poderíamos partir destas premissas e ficarmos horas lembrando outros exemplos, muitos deles já não tão marcantes em nossa sociedade hoje, machista, mas já mais adequada ao que chamamos de “politicamente correto”.
Quero estabelecer um roteiro onde possamos correlacionar cores e aromas, aos vinhos, e estes aos homens e mulheres, nada científico, empírico mesmo.
O vinho, para mim, é essencialmente feminino em seus aspectos visual, olfativo e gustativo, quando o analiso fazendo comparação com o melhor dos gêneros.
Na mesma direção, admito que alguns vinhos podem ser mais próximos da rudeza, corpulência e aspereza do homem, sem que isto represente defeito, pois alguns vinhos, de determinadas uvas, terão que descansar antes de serem provados, e comparando com a vida, só acontece assim após um período de amadurecimento, atitude bem masculina, que só acontece após as mulheres em idade cronológica.
Não dispenso olhar uma bela mulher, assim como não dispenso um belo vinho.
Há vinhos que têm mais corpo, as mulheres também. Outros são suaves, aveludados como a pele delas, certo?
Numa pesquisa realizada há alguns anos nos EUA, 57% das mulheres consultadas preferiram o vinho tinto, somente 30% o branco, e 6% elegeram o espumante ou o Champagne.
Pode-se supor que o clima tenha favorecido os tintos; entretanto, que entre os grandes tintos de Bordeaux, a preferência das mulheres recaia sobre aqueles menos encorpados, ou pela Borgonha, cujos vinhos, por sinal, são chamados de femininos.
Sempre que se vai falar de realeza entre as variedades de uvas, fala-se da Cabernet Sauvignon como rainha das uvas tintas, e da Chardonnay como a rainha das brancas. Tende-se sempre a associar o vinho branco às mulheres, e o tinto aos homens, apesar de nesta pesquisa citada, termos o dobro delas preferindo o tinto.
Pergunto: será que não é sinal dos tempos, onde a competição pela vida as leva a se igualarem ao mundo masculino? Embutem-se aí dois preconceitos: o de que quem gosta de branco não entende de vinho, o que não é verdade, e o de que os homens entendem mais, porque sempre são associados aos tintos, pura balela.
Como temos ocasiões para usufruirmos um vinho tinto, temos outras para o vinho branco, independentemente de estarmos comparando um com o masculino e outro com o feminino. Como ficam então os roses e claretes? E os espumantes?
O charme dos Champagnes rosados embeleza mesas e agrada paladares desde 1804.
Em nossa cultura, o rosa é a cor da feminilidade, da ingenuidade infantil e do amor fraternal. Tem um efeito ao mesmo tempo tranquilizador e tonificante.
Nos vinhos tranquilos, esta cor se traduz em bebidas alegres e sem compromisso.
Paradoxalmente, nos espumantes a cor rosa evoca classe, nobreza e até certa seriedade. Esta dualidade não é bem uma característica das mulheres?
Em seu surgimento no século XVII, o Champagne não era exatamente branco, mas às vezes castanho, sem brilho, sujo, às vezes acinzentado, às vezes rosa pálido. A limpidez, o brilho e a cor amarelo dourada que vemos hoje só foram alcançados ao longo de mais de um século de evolução em sua elaboração.
As primeiras borbulhas intencionalmente rosadas datam de 1804 e são creditadas a Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin (1778-1867), mais conhecida como “viúva Clicquot”.
Essa grande dama do Champagne foi muito feliz em sua inovação, pois é inegável o grande charme conferido à bebida de viva coloração, que vai de um delicado tom de casca de cebola até o cereja intenso, quase tinto.
Os vinhos roses são encantadores, e para mim lembram as meninas em seu estágio pós-adolescente, quando ainda não atingiram a maturidade, mas já mostram sua personalidade, falando evidentemente pela cor.
Os espumantes são para mim, as mulheres completas, envolventes, inebriantes, misteriosas e complexas.
Quanto aos vinhos tintos, que sugerem serem mais encorpados, me lembram a determinação das mulheres.
Algumas “domam” seu temperamento, outras nem tanto, mas creio que façam muito mais esforço para isso do que os homens, onde até certo ponto, esta força de temperamento é exigida socialmente, o que os permite conviver com esta personalidade sem muito chamar a atenção.
Entre os críticos mais lidos e respeitados no mundo do vinho, três são mulheres: Serena Sutcliffe, Fiona Becquett e Jancis Robinson. Elas estão no mesmo nível de Robert Parker e Hugh Johnson, isto sem falar das enólogas, e que hoje são muitas e muitos reconhecidas pelo seu trabalho.
Na história do vinho, houve mulheres fortes que deixaram sua marca num meio tradicionalmente dominado por homens. Um exemplo clássico: Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin , a veuve Clicquot, que, viúva aos 27 anos e mãe de uma filha de três anos, revolucionou a casa de champanhe da família no início do século 19 e ficou conhecida como a inventora do remuage, procedimento destinado a retirar as borras de levedura das garrafas de Champagne.
Mas a veuve Clicquot e outras mulheres de fibra do passado sempre foram exceções que confirmavam a regra: fazer vinho era um ofício eminentemente masculino.
Até hoje é assim. No entanto, nas últimas duas ou três décadas, como em quase todas as profissões, mais e mais mulheres passaram a elaborar tintos, brancos, espumantes.
Em qualquer lugar do mundo em que o suco da uva fermente e vire vinho, elas ainda são minoria, é verdade. Mas não é mais possível ignorá-las. Elas chegaram às vinícolas, e chegaram para ficar. Vamos sensorialmente fazer provas de vinhos, sempre pensando em compará-los ao masculino e feminino? Claro que não!
Em outra oportunidade, escreverei sobre os perfumes, as mulheres e os vinhos.
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão