Meninas e meninos,
Faço minhas as palavras do Marco Sabellico, editor sênior do guia Vini d’Italia ao apresentar 14 brancos, 7 espumantes e 7 tintos, dos 28 vinhos apresentados no painel na primeira máster class ontem do Gambero Rosso 2016.
Já escrevi muito sobre os vinhos brancos no país do carnaval, e noto até certo incremento nas vendas de brancos nos últimos anos, justamente porque temos, nós jornalistas, batido duro nesta matéria, conclamando os brasileiros a pensarem sobre o tema.
Graças ao desempenho de nossos enólogos, e aos estudos demandados sobre o assunto e às cepas que se destinam aos vinhos brancos e também em parte aos rosados, vemos que enfim temos hoje melhor receptividade aos vinhos próprios para nosso clima.
Escrevi há 9 anos o seguinte: Por que será que num país como o Brasil, de clima tropical, onde na maior parte desta extensão continental, com temperaturas médias acima dos 25º o ano todo, não se bebem vinhos brancos e rosados?
Será tão grave assim a lembrança ainda recente de vinhos de inferior qualidade que proliferaram por cá anos atrás? Será porque passamos anos não fazendo propaganda de vinhos tão próprios para nosso clima, e ainda não a fazemos, que o uso e costume os tiraram do alvo? Tenho cá uma dúvida.
Como no Brasil, não temos as estações bem definidas, a não ser em uma pequena parte desta imensa geografia, e mesmo assim não muito diferenciada a não ser pelas chuvas ou secas, quando se fala de temperaturas, sempre se faz lembrar o calor, e calor por calor, ora bolas, estamos acostumados a ele, e, além disso, falam mais alto nossas tradições colonizadoras, que nos ensinaram que vinho é tinto.
Tinto e forte como o sangue deste povo (os imigrantes, especialmente italianos) que veio desbravar terras novas e inóspitas, desde o começo da nossa história até os mais recentes episódios do século passado, principalmente no sul do país.
Será que não é ser forte se deliciar com um belo branco, frutado, mineral e fresco, em um dia de calor, normal, aliás, em nossa terra?
Será que a Primavera não nos remete aos bons momentos regados a um vinho branco? Será que não temos um bom rosado, que não seja aquela versão mal acabada da mistura de um tinto medíocre com um branco pior ainda?
Quando falo em termos exemplares, não excluo nenhum país produtor, muito menos nosso torrão.
É preciso esclarecer estas dúvidas que talvez pairem nas mentes dos recém-chegados ao mundo vínico, bem como é claro que temos que ter opções de boa relação preço x qualidade, venham de onde vierem.
Está mais do que na hora de nossos competentes enólogos, engenheiros agrônomos e responsáveis pelas vinícolas, só para falar das tupiniquins, desejarem e buscarem nesta seara, nossa vocação vinífera.
Deixem de lado a mania nacional de procurar tipicidade em vinhos que ainda não se fizeram, em terroirs, que ainda são muito novos para comparações, muito exagero, pouco esmero.
Assim como temos belos exemplares de espumantes, creio que poderemos ter também ter mais ótimos brancos e rosados, aproveitando a acidez natural de algumas uvas próprias para estas vinificações, e a coincidência de chuvas na época da colheita, principalmente nos terroirs do sul de nossa terra.
Proponho um brinde e uma questão: Que tal bebermos um branco ou rosado, para cada dois tintos?
Breve teríamos aumentado o consumo, consequentemente, diminuído os preços e criado um novo paradigma.
Voltando aos nossos dias, vejo que em matéria de quantidade e qualidade, em parte minhas indagações se cumpriram em respostas, mas a falta de preço(por variados motivos), a falta de incentivos em marketing e educação para a cultura dos vinhos se fortalecerem continua daí, a resposta ao Marco Sabellico sobre não consumirmos tanto os magníficos vinhos brancos italianos.
Até o próximo brinde
Álvaro Cézar Galvão