Meninas e meninos,
Pet Nat de Pinot Noir 2020 do Eduardo Mendonça Vinhos Artesanais, vinhos livres, elaborado com leveduras selvagens. Antes de descrever o espumante, vamos ao que vem a ser Pet-Nat abreviação de Pétillant Naturel.
Os Pet-Nat são vinhos espumantes, e como tal, têm gás. São elaborados pelo método ancestral de se fazer espumantes. Existem alguns métodos para elaboração de espumantes, o mais falado, até pela quantidade em garrafas, é o Charmat. Há também o método conhecido com Tradicional ou Clássico, é o utilizado para os Champagnes, por exemplo.
Há outros, como o método Asti, que utiliza o frio para colocar as leveduras a dormir, mas o nosso vinho é um Pet-Nat, Pétillant Naturel, método ancestral. Porque ancestral? Por que os primeiros espumantes foram assim elaborados, e começaram com certeza por um “acidente”.
Na cidade de Limoux, “surgiu” o primeiro espumante. Esta cidade tem até hoje uma boa briga, no bom sentido, com a região de Champagne, onde o monge Don Pérignon também teve em um “acidente” seus vinhos espumantes. A briga é no sentido de se ter a primazia de ter sido a primeira a ter um vinho espumante.
Ambos “acidentes” aconteceram mais ou menos do jeito que podemos descrever os Pet-Nat, ou seja, os vinhos foram engarrafados com ainda boa quantidade de açúcares e leveduras. Estas leveduras, dependendo da temperatura exterior, transferidas aos líquidos pela estação corrente do ano, as fizeram mais ou menos ativas.
Quando ativas, no tempo mais quente, elas continuaram a fazer seu trabalho de se alimentarem dos açúcares, resultando o gás. Deste processo fermentativo, e como estava a garrafa tampada, este gás não tinha como escapar, deixando-o então em meio ao líquido, ou seja, ao vinho. Estava assim, por “acidente”, descoberto o espumante, que nada mais é do que um vinho com gás.
Pois bem, o método ancestral para produção de espumantes é este, onde o açúcar das uvas é transformado em álcool pela ação de leveduras, gerando gás carbônico, dentro da garrafa fechada, em uma única fermentação.
Via de regra, nos Pet-Nat, as leveduras não são retiradas das garrafas, ou seja, não é feito o que chamamos nos espumantes pelo método clássico de degorgement, ou degorge, ou degola, quando as leveduras mortas são retiradas.
Aí nos deparamos com outro aspecto, vejam como não é nada fácil elaborar um Pet-Nat. Quanto de açúcares deixar no mosto engarrafado para que as leveduras deem conta de consumi-los e gerar gás? Se for muito açúcar se corre o risco de a quantidade de gás fazer explodir a tampinha, ou até mesmo a garrafa. Se for pouco, teremos como resultado uma quantidade mínima de gás.
Outra dificuldade é sobre as leveduras, que no caso do Pet Nat do Eduardo Mendonça Vinhos Artesanais são selvagens, ou seja, estão no ambiente e nas cascas das uvas. Se forem suficientemente eficientes, levam a cabo seu serviço, mas se não forem, mal teremos gás no vinho.
Não quero ser muito técnico, mas em cada safra teremos variações para mais ou para menos nos graus de açúcares nas uvas, que são medidos por escalas Babo ou Brix. Caberá ao enólogo, ao vinhateiro, decidir sobre seus vinhos, de acordo com a medida destas escalas, para um bom Pet-Nat ser elaborado.
Agora que vocês já viram as dificuldades, vamos ao que interessa; o Pinot Noir Pet-Nat 2020 do Eduardo Mendonça Vinhos Artesanais. Perdi muito do gás ao abrir a garrafa, pois a tampa Corona, aquela dos refrigerantes ou cervejas, foi aberta com um abridor artesanal que tenho. Um aparato que os mais novos de vocês jamais viram. E não foi só por isto, eu não quis deixar o vinho muito gelado, o que facilitaria, pois queria ver bem o gás no vinho, e os aromas imediatamente depois de aberto.
No visual, me lembrou um Clarete ou Palhete, um salmão bem vivo. Mesmo tendo perdido algum gás, as borbulhas finíssimas e em boa quantidade. No olfato, aromas de frutas em escala surpreendente, as frutas vermelhas frescas, morangos, pitangas, cerejas.
Em boca confirma as frutas citadas no olfativo, e ao final de boca, um dulçor que me remete não a açúcar residual, mas à sensação do doce da fruta madura. Bom vinho, elegante, equilibrado em acidez e álcool de 11%.
Parabéns Eduardo Mendonça Vinhos Artesanais. Obrigado aos amigos que me foram indicando alguns dos vinhos que mais em emocionaram nos últimos meses, e que foram em cadeia, um amigo indicando o outro.
Quem começou tudo foi minha querida amiga Lizete Vicari da Dominio Vicari que tenho orgulho em dizer ter sido o primeiro a escrever sobre seus vinhos. Depois nesta ordem conheci o Humberto Conti, através dele o Rubens Kunz , e que através dele conheci o Bernardo, que gentilmente me enviou o Pet-Nat do Eduardo. O vinho tem isto, é gregário, faz a aproximação de pessoas, faz bem à saúde, e tantas outras virtudes.
Rubens Ernesto Kunz Vinhos da Rua do Urtigão @vinhosdaruadourtigao
Bernardo Simas @simasber
Eduardo Mendonça Vinhos Artesanais @eduardomendoncavinhoartesanal
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão