Meninas e meninos,
Já escrevi antes sobre Beaujolais, e acho importante destacar aqui uma diferença técnica que sempre me perguntam sobre a maceração carbônica, ou semi-carbônica que a região de Beaujolais tradicionalmente utiliza para a vinificação de seus Gamays.
A maceração, em primeiro lugar, significa o que nossos avós já faziam com algumas ervas, folhas, sementes, para os males que os afligiam lembram?
Utilizar um meio qualquer para que se extraiam as propriedades que se desejem, no caso das infusões dos avós, algumas folhas milagrosas, por exemplo, macerando-as, socando-as, deixando-as em infusões extratoras.
No caso das uvas, macerar é extrair cor e propriedades do contato que as cascas com o suco da polpa, que em geral é branco, irão dar cor ao líquido.
Também, são extraídos os componentes fenólicos, antioxidantes; resumindo, no caso dos vinhos, macerar significa deixar as cascas em contato com o suco para dar-lhe cor.
Posto isto, a maceração carbônica difere da semi-carbônica por um detalhe bem simples de se entender: na primeira as uvas são colocadas inteiras em recipientes já saturados de gás carbônico, que irá execre pressão e romper as células, e na segunda, este mesmo gás carbônico se forma como início da fermentação alcoólica, principalmente pelo peso ao qual as uvas do fundo do tanque são submetidas, e que as rompem, e se acumulará no recipiente. Daí em diante o processo é o mesmo.
Em ambos os caso, o resultado é a fermentação intracelular pelo rompimento.
Em Beaujolais, que tem tradição vinícola muito longa, mais de 2 000 anos, seria injusto com os produtores e as 12 AOC com 10 Crus, que utilizam as cepas Gamay e Chardonnay, confundir seus vinhos sempre com os Beaujolais Noveau, case de Marketing.
Os vinhos de Beaujolais têm seu enorme apelo e não são todos iguais.
Das 12 denominações, sendo 10 delas Crus, nascem vinhos fantásticos, alguns com muito bom potencial de guarda.
Os 10 Crus com suas áreas são os seguintes:
Juliénas(600 ha); Saint-Amour(320 ha); Chénas(250 ha); Moulin à Vent(660 ha); Fleurie(890 ha) Chiroubles(360 ha); Régnié(370 ha); Morgon(1.100 ha); Côte de Broully(310 ha);Broully(1.300 ha); as outras duas que completas as 12 são Beaujolais e Beaujolais Villages.
Os tintos são da uva Gamay, que conta com 20.000 ha dos 36.000 ha desta uva plantada no mundo, e os brancos de Chardonnay vêm crescendo em quantidade de área plantada.
A região tem 12 denominações: As AOP Beaujolais e AOP BeaujolaisVillages que representam 60% da produção e encontram-se essencialmente na parte sul.
As 10 denominações de “crus” são situadas no norte, em terroirs graníticos e vizinhos da prestigiosa Borgonha, representando 40% da produção.
A Gamay oferece vinhos amplos, frescos e frutados com taninos macios para serem bebidos jovens, mas podem e alguns envelhecem muito bem e melhora com o tempo.
No Brasil, onde a temperaturas médias são sempre acima dos 22º, os vinhos de Beaujolais são ideias, pois pedem um resfriamento um pouco maior, e são ideais para o calor, sendo também muito gastronômicos.
Nesta última apresentação do Antony Collet, diretor de marketing da Inter Beaujolais, degustamos 7 vinhos das denominações:
Beaujolais Laurent Chardigny 2014-Beaujolais-Importado pela Cantu
Beaujolais Villages Château de La Terrière 2013-Beaujolais Villages-Importado pela Chez France
Régnié Claire Rivir 2013-Régnié-Importado pela Vino Ideale
Fleurie Georges Duboeuf 2011-Fleurie-Importado pela Interfood
Saint-Amour, Domaine de La Pirolette 2013-Saint Amour-Importado pela Chez France
Morgon, Château Gaillard 2013-Morgon-Importado pelo Empório Mundo
Moulin-à-Vent Domaine Les Gryphée 2011-Moulin-à-Vent-Importado pela Franco Suissa
Cada um deles, e nesta ordem degustada, dos mais “simples”, aos mais complexos e encorpados, muito elegantes e equilibrados.
Minha preferência pelos Morgon continua a ser exercida, mas confesso que depois de ter degustado este ótimo Saint Amour Domaine de La Pirolette fiquei fã.
Olfato com algum canforado ou algo de frescor, frutado, alcaçuz, mineral, especiarias e “carne”(aquele aroma de carne fresca, sanguínea), delicioso(ao menos para os carnívoros). Em boca confirma o frutado, é suculento e um tanto untuoso até, com especiarias e uma pimenta levemente ardendo na língua. Fantástico.
O Morgon ótimo, de vinhas velhas com 90 anos, mineral e austero em boca, chocolate e alcaçuz.
Outro que empolgou-me foi o Moulin-à-Vent Domain eles Gryfhées, o mais floral para mim, frutado maduro, frutas secas e chá. Confirmando em boca as frutas secas, frutas vermelhas maduras quase em compota.
Muito didática a degustação, e ótima para vermos as reais diferenças entre denominações e o que se podem fazer com a Gamay, e para provar que são vinhos gastronômicos, fomos brindados com um belo almoço na Fogo de Chão, onde as carnes e a morcilla harmonizou muito bem com os vinhos.
www.vinhosdobeaujolais.com.br
www.beaujolais.com
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão