Meninas e meninos,
Gosto de cozinhar, todos sabem, e tenho duas das famosas panelas de barro feitas pelas paneleiras de Goiabeiras onde faço moquecas, algumas vezes um virado ou tutú de feijão.
Pois, estando em Vitória-ES, e com algum tempo, fui atrás de conhecer de perto estas artesãs do barro, que são as paneleiras.
Porque Goiabeiras? Bem este é o nome do bairro, na verdade Goiabeiras Velha, pois o campus da UFES-Universidade Federal do Espirito Santo fica em Goiabeiras, e não tem nada, ou quase nada a ver com o bairro velho, que é um bairro bem antigo ao norte de Vitória, e onde ficam estes artesão do barro.
Local amplo, um galpão bem grande, onde pequenos boxes estão dispostos como em um mercado, para cada uma das artesãs, apesar de ter visto ao menos dois destes boxes com homens, o feminino é o usual.
As casas dos artesãos e este galpão que mencionei, ficam à beira do canal que banha o manguezal. No terreno em frente ao galpão é feita a queima a queima das panelas e tampas, depois de ao menos cinco dias de secagem, em fogueiras rudimentares, no chão mesmo.
O local de onde é extraído o barro, a argila com que são feitas as panelas não é de lá, mas de um outro ponto da Ilha de Vitória.
Ponto de referência quando se fala em cultura e artesanato no estado, e nacionalmente conhecidas, as panelas de barro de Goiabeiras são produzidas conforme antiga tradição indígena. São essenciais no preparo e na apresentação de pratos típicos capixabas, como a moqueca de peixe e frutos do mar e a torta capixaba.
A tarefa de confecção das panelas de barro, ao que pude observar e conversar com uma das artesãs, é fruto do trabalho e envolvimento de toda a família, porém, conforme a tradição, a presença feminina é muito forte no mister da moldagem do barro.
Já na queima das peças e também na preparação do barro, que são um trabalho mais bruto e penoso, eu encontrei os homens na atividade.
O ofício é passado de geração para geração entre as mulheres, de mãe para filhas, que usam técnicas antigas que os índios já usavam.
Tudo é manual neste ofício, desde a modelagem, passando pela queima a céu aberto e depois a impermeabilização, onde vi homens e mulheres. Esta impermeabilização é feita com uma tintura feita à base de tanino extraído de cascas de árvores; segundo um deles me falou é a casca da planta mangue vermelho, ali do manguezal.
Para fazer o tingimento são usados uma forma ou cuia onde fica o líquido da tintura e uma espécie de batedor em formato de vassourinha que também utilizam em sua confecção os materiais encontrados na região.
Em 2002, o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – inscreveu o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras no Livro de Registro dos Saberes, reconhecendo essa atividade tradicional como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
Agora vai um conselho que me foi dado faz muitos anos, e que segui à risca com minhas panelas, e uma delas tem mais de 20 anos de uso: Antes de usar a panela, unta-la toda por dentro com óleo vegetal, o de soja, por exemplo, e levar ao fogo deixando queimar todo o óleo. Deixe a panela esfriar só então a lave e comece efetivamente a usá-la.
Também se pode fazer a queima com farinha de rosca ou de mandioca pondo uma boa quantidade desta farinha na panela e levando ao fogo, mexendo sempre, envolvendo a farinha quente por toda a superfície interna da panela. Esta técnica evita a lavagem!
Para comprar artesanatos, se puder, entre em contato diretamente com os artesãos para assim evitar intermediários e incentivando o comércio justo.
Associação das Paneleiras de Goiabeiras: Rua das Paneleiras, 55 – Goiabeiras, Vitória – ES.
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão