Meninas e meninos,
Era dos Ventos Clarete 2020 mais uma das criações em vinhos livres do vinhateiro poeta, ou poeta vinhateiro Luís Henrique Zanini. Demorei a degustar este vinho, pois como é um vinho sem sulfito, deixei descansar mais demoradamente depois de recebê-lo.
Queria também experimentar o Era dos Ventos Clarete com uma gastronomia diferente. Depois de degustar o vinho, examinando sensorialmente, resolvi fazer favas brancas.
Não exatamente uma Fabada como a Asturiana, mas favas à minha moda, caipira, como gosto de cozinhar. Sempre gostei de vinhos rosados com os feijões em geral, mas as favas seriam uma experiência nova.
As favas brancas deixei-as mais al dentes. Já na água do cozimento alguns pedaços de costelinha suína defumada, duas cebolas inteiras cravejadas com cravos da índia. Para o tempero, banha de porco, paio, bacon artesanal em grandes cubos, calabresa e as costelinhas defumadas. Fritei com cebola e alho, um tomate bem picadinho, pimenta do reino e cúrcuma. O cheiro verde abundante, um pouco agora, e muito depois de pronto.
Voltando ao Era dos Ventos Clarete 2020, primeiro explico porque clarete. Claret, esta era a denominação aos vinhos bordaleses menos tintos escuros, mais claros, ou mais escuros que os rosados, que os ingleses importavam, da França. Faz alguns anos, me deparei também com o termo Palhete , usado em Portugal. O Palhete em geral é um vinho de curtimenta-fermentado com casacas e engaços- com uvas brancas e tintas, tal o Clarete.
Era dos Ventos é o projeto mais experimental, digamos, do Luís Henrique Zanini, que também elabora os vinhos ótimos da Vallontano, cujo recém-lançado Indra é apenas um dos exemplos.
O Clarete é um corte de quatro uvas entre brancas e tintas, mas o Zanini não declarou de quais cepas. Sabemos que o projeto Era dos Ventos trabalha com as uvas Peverella, Teroldego, Malvasia, Nebbiolo, Trebiano dentre outras trazidas pelos italianos quando de sua chegada à Serra Gaúcha.
Sua cor é um rubi mais claro. Mas poderá ser mais escuro com o passar do tempo, visto ser sua garrafa incolor, e poder assim sofrer com ação da luz. Olfativamente é um leque de opções de frutas de bosque. Para mim, sobressaiu-se no primeiro momento a pitanga, mas depois a cereja.
Não exatamente esta cereja nossa conhecida, mas a Ginja portuguesa-para quem conhece- que é mais ácida. Também surgem morangos silvestres, e um delicioso aroma de sumo do limão siciliano.
Em boca o frutado se confirma. Adorável frescor, álcool comportado não chegando aos 12%. Taninos há, porem sutis. Alguma especiaria picante surge com o passar do tempo em taça, no olfato e palato. Persistência duradoura com o limão siciliano se mostrando. Vinho limpo, objetivo, direto!
Por estas sensações organolépticas é que resolvi fazer as favas, e coloquei alguma untuosidade para ver a acidez do vinho dar combate. Uma especulação minha: o pouco álcool poderá ser devido à leveduras indígenas, e também por uma fermentação em cubas abertas, onde se perde por evaporação.
“Era dos Ventos é uma forma de ser um pouco mais livre, onde eu posso colocar as coisas que gosto, levar um pouco de arte nos rótulos, convidar artistas para pintar. E também colocar as poesias que escrevo no contrarrótulo. É essa liberdade de trabalhar em um projeto que o faz tão autêntico” Luís Henrique Zanini.
Para comprar a linha Era dos Ventos
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão