Meninas e meninos,
Transcrevo o e-mail que enviei à época para a Nina Horta. Nada mais triste do que perdermos memórias, e para que não se perca, uma delas ao menos, posto aqui um e-mail que mandei para Nina Horta em 29 de Fevereiro de 2012 comentando um texto que ela escrevera para o Caderno Comida da Folha de São Paulo com o título “Saudade de Paraty”.
Linda Nina linda,
Quanto tempo não a vejo? Sei que faz muuuito tempo.
Lendo sua coluna de hoje no caderno comida, logo me identifiquei(uma vez mais) com seu texto. Também sou daqueles que acho que se tivéssemos galinhas, especialmente as Angolas, e soltas, então estaríamos no que chamo “estado de espírito matuto”.
Sabe Nina, sou nascido na capital, mas com certeza em outras vidas, morei na roça, no mato mesmo, pois desde pequeno sou afeito às coisas do campo, ordenhar vacas e ovelhas, andar a cavalo, plantar de um tudo, cozinhar(por inúmeras vezes matava o animal, limpava e cozinhava).
Hoje não mato mais, aceito de bom grado que alguém o faça, mas cozinhar, ainda gosto, e até por causa disso, o vinho entrou em minha vida, e minha experiência em enogastronomia aflorou.
Galinhas d’Angola adoro, até acho que fui uma delas em outras encarnações, de tanto que me identifico com elas. Tenho várias, de todos os formatos, de barro, de madeira, de louça, de pedra. Algumas penas delas, as cato e guardo.
Enfim, ao ler seu texto, fiquei apaixonado de pronto pela linguagem que me toca(seus textos têm este efeito em mim), e pelo assunto que me remeteu aos vários sítios, fazendas e chácara onde fui.
Cheguei a ter em meio à cidade, na zona sul de Sampa, algumas galinhas e patos, que pegava pintainhos, cuidava e via crescer(claro que seu fim digno sempre foi o do aprendizado culinário), bons tempos aqueles… Só discordo de ti quando diz preferir a água ao solo, eu sou mais solo.
Nina, precisava escrever para você sobre a saudade de modo geral, que nos incomoda a ponto de não acharmos graça nos doces, comidas, leites, ovos, carnes, queijos (os de antanho eram melhores), não só atraídos ou traídos pelas nossas memórias olfativa e gustativa, mas principalmente pela memória afetiva, que faz com que as coisas que comemos, bebemos, as viagens que fizemos, quando boas e agradáveis, sejam sempre motivo de saudade e nunca mais sejam iguais.
Beijos de luz e calor
Álvaro Cézar Galvão
“O ENGENHEIRO QUE VIROU VINHO”
Assim também, com muita saudade, será a lembrança de Nina Horta, falecida ontem 07-10-2019.
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão