Meninas e meninos,
Para comemorar o que amanhã vem a ser o dia dos mortos, e hoje o dia de todos os santos, vejam o que aconteceu comigo ainda este ano.
Depois de seis meses do simbólico enterro da garrafa de vinho nº 3 do Vinho dos Mortos, o amigo Olivardo, da Quinta do Olivardo, e responsável por reviver aqui no Brasil, esta tradição portuguesa, me convidou para o desenterro do lote 6, da qual a minha garrafa repousava em meio ao parreiral.
A cerimônia é lúdica, com tochas acesas em meio à noite que prenunciava uma boa chuva.
O local da cova, marcado com uma plaquinha, estava com a terra compactada, deu trabalho nas primeiras camadas de terra, depois, o terreno mais fofo facilitou o trabalho cuidadoso para não se perder nenhuma preciosa garrafa das enterradas no lote.
A minha, a de número 3 estava mais ao fundo, visto ter sido eu um dos primeiros na cerimônia do “enterro”, a coloca-la na cova.
Lindo de se ver, e um motivo a mais para atrair o turista ávido de conhecimento sobre vinhos, gastronomia e histórias que os uma,
Costumo dizer, e o Olivardo apregoa isto, que o vinho é história engarrafada, ou como ele diz “não vendo vinhos, vendo histórias”.
Só para citar, o vinho que enterrei foi vinificado com a Merlot cultivada lá mesmo, com acidez mediana, taninos ainda vivos, frutado, e com teor de álcool de 12,5%.
Um pouco do que representa a história está em um quadro à entrada da loja, mas, trata-se de uma história que nos leva até aos anos de 1807durante a guerra, quando os franceses invadiram a região de Beira Alta e Trás-os-Montes, tendo seus bens e alimentos confiscados pelo invasor.
O povo, com medo que lhes pilhassem os bens, escondeu o que conseguiu, o vinho foi enterrado em meio às plantações, no chão das adegas, debaixo das pipas dos lagares.
O que não se supunha é que o “enterrar” destas garrafas, pudesse ter algo que as melhorassem, e está claro que a temperatura mais ou menos constante, sem a luz, e com boa umidade, estas não se estragaram.
Mais tarde, quando recuperaram os bens que restaram e ao desenterrarem o vinho, descobriram que estava muito saboroso, pois tinha adquirido propriedades novas. Na época eram vinhos coloniais, com graduação ao redor dos 11% de álcool, os chamados “palhetes”, muitos com algum gás natural, que lhe adveio de se ter produzido uma
fermentação por terem sido engarrafados às pressas.
Por ter sido “enterrado” ficou o nome “Vinho dos Mortos”, e depois deste episódio, muitos passaram a se utilizar desta técnica, descoberta ocasionalmente, para melhor conservar os vinhos.
Assim, nasceu a tradição de “enterrar” o vinho.
Hoje, em Portugal, são já poucos os agricultores que mantêm viva esta tradição, nas vinhas vizinhas à Vila de Boticas e da Granjas, mas o Olivardo resgatou a história e a mantem como elo de um importante fluxo turístico.
Para ficar completa a noite, o jantar magnífico ao som de violão, guitarra portuguesa e canções, animando os comensais, alegrando o ambiente, fazendo realmente uma festa enogastronômica, unindo o turismo, pois a Quinta do Olivardo, nesta noite, tinha gente de cidades distantes do interior de São Paulo, de outros estados, da capital e de cidades vizinhas a São Roque, uma verdadeira confraternização.
Um pouco mais poderão ver no site da Quinta do Olivardo
A Adega e Restaurante Quinta do Olivardo está localizada no km 4 da Estrada do Vinho, em São Roque (SP), com acesso pelo km 58,5 da Rodovia Raposo Tavares (SP-270).
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão