Meninas e meninos,
Degustando Oremus Tokaji das bodegas Veja Sicilia ao findar do ano passado, para quem adora os vinhos de Tokaji como eu, foi um luxo. Em minha modesta opinião, em que pese a força dos franceses com o Sauternes, o vinho que mais me agrada pelo equilíbrio entre acidez e dulçor é o Tokaji.
Mas o que vem a ser o Tokaji? Dizem os húngaros que a versão doce do Tokaji nasceu por acaso. Quando houve a invasão turca, um religioso chamado Máté Sepsi Laczkó ordenou, no ano 1650, que a vindima não houvesse, sendo atrasada.
As uvas “amadureceram o que podiam e o que não podiam” e por fim, foram atacadas pela Botrytis cinérea, um fungo que perfura os poros da casca da fruta alimentando-se de seu ácido tartárico e provocando a saída da água, fazendo então o desequilíbrio entre acidez e dulçor com uva perdendo bastante acidez e concentrando o açúcar natural, fica enrugada e parece estragada.
Passado o perigo da invasão turca, os moradores da região acharam que as uvas tinham se estragado, mas quando provaram, descobriram que não, e as vinificaram. Desde então, os húngaros usam as uvas aszu, atacadas pela Botrytis cinérea, para fazer um vinho branco doce.
Na história o Voltaire faz parte, mas no Divino Guia ele aparece. Pulando a história e indo direto aos puttonyos, os mais conceituados: Tokaji Aszu e o raro Tokaji Eszencia, invariavelmente doces. O putonnyo é o nome dado ao recipiente de madeira com capacidade aproximada de 25 litros( aqui há uma controvérsia que não consegui dirimir, pois a Daiana garantiu serem 167 litros), empregado para transportar as uvas botritizadas. Os Tokaji Aszu têm seus tipos determinados por puttonyos, que vão de 3 a 6.
Os numerais indicam a quantidade de recipientes(puttonyos) colocados em barris de 135 litros, misturadas ao mosto de uvas não atacadas, mas há o Tokaji Eszencia, néctar supremo e exclusivo. Além de feito com 100% de uvas aszu, colhidas a mão e vinificadas segundo métodos artesanais, só existe em anos excepcionais.
Disse-nos a Diana Kelley, diretora da Veja Sicilia que o Eszencia não passa de 9 garrafas/há, tem apenas 3% de álcool, e sua fermentação muito longa demora meses, depois estagiam em barricas pequenas de 68 litros de carvalho húngaro ao menos 10 anos.
Possui grande concentração de açúcar e deve ser servido frio mais frio de 7 a 9 º C, elaborados pelo mosto flor que escorre lentamente, pelo teor de açúcar, e que saem do esmagamento pelo próprio piso das uvas umas sobre as outras.
Podemos também lembrar que dentro das caves há um fungo preto que cobre as engarrafas, pois estes vinhos são muito mais longevos e as adegas guardam vinhos de praticamente todas as safras, desde a fundação. As garrafas ficam todas em pé, havendo uma permanente troca entre o ambiente interno e externo das garrafas. O fungo Cladosporium cellare alimenta-se do álcool e do açúcar que emanam das garrafas.
Na degustação do Oremus Tokaji degustamos cinco vinhos sendo um dry-seco- o Mandolás Furmint, muito floral, fruta cítrica lembrando tangerina, mineral lembrando pedra úmida, muito gostoso em boca, ótima para gastronomia.
Oremus Tokaji Late Harvest 2014 que já tem percentual de botrytis, leve, delicado e com floral e casca de laranja bem nítidos.
Oremus Tokaji Aszú 3 Puttonyos 2009, corte de 55% Furmint; 45% Harlesveslu e 5% Muscat de Lunel. Muito bom, equilibrado em acidez e açúcar, aparece sutil tostado.
Oremus Tokaji Aszú 5 Puttonyos 2006 corte não definido com uvas Furmint; Harlesvelu e Muscat, onde o tostado de novo aparece, a casca de laranja e o cardamomo. Delicia.
Oremus Tokaji Aszú 6 Puttonyos corte de 75% Furmint; 20% Harlesvelu e 5% Muscat, teor alcoólico 10%, generoso, tostado, frutas cítricas pacificadas como o damasco.
Uma observação importante é que a nova legislação sobre este vinhos, não mais obriga a ser colocado nos rótulos o número de puttonyos, sendo o Aszú opcional.
Para conferir estes néctares Mistral www.mistral.com.br
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão