Meninas e meninos,
Em uma das idas ao Chile, este país que nos ensina como se deve tratar o agronegócio tendo muito menos território, e onde quase dois terços são ou deserto ou geleiras, fui visitar o famoso Seña no Valle do Aconcagua levado pela querida Susana González, que incansável, trabalha com a Brandabout, que várias vezes escrevi neste sítio e em outras mídias.
Lembrei-me de novamente escrever sobre o Seña, porque em recente texto comentei que uma harmonização encontrou em um vinho da Robert Mondavi Winery seu par, e como Mondavi fundou a Seña, vamos aos Chile.
A vista é deslumbrante, paradisíaca mesmo, que fotos não conseguem detalhar, o que fica na mente e na retina é que vale mesmo, e a organização impecável desta bodega, que na verdade atende muito pouco aos jornalistas, pois a infraestrutura é espartana, apesar de fantástica quando posta em andamento para nos atender.
Sua localização dista uns 40 km do mar e uns 100 km da capital, Santiago, em uma colina e contendo cerca de 40 ha em harmonia com a natureza e conservados com rigor.
No ano de 1995 os amigos Eduardo Chadwick e Robert Mondavi movidos pelo desejo de fazerem um vinho ícone no Chile, levaram para o Seña, além da clara amizade que os unia, um resultado que desde logo atingiu o pleno objetivo dos amigos.
O vinho é um corte bordalês por excelência, onde as cepas Cabernet Sauvignon, Carmenère, Merlot, Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot se mesclam com graça e elegância, provindo de terroir específico, num processo que desde 2005 se reverteu ao modo biodinâmico de encarar o vinho e a agricultura.
Para encurtar a história, que poderá ser vista no site de com toda a clareza, quando da Cata de Berlin em 2004, onde 36 respeitados juízes julgaram 16 dos mais icônicos vinhos, estavam sendo julgadas seis amostras do Chile, concorrendo com outras da Europa, vindas da Itália e da França dentre os mais famosos e conceituados destes países, sendo todos das safras de 2000 e 2001.
Resultado, o Viñedo Chadwick 2000 da Viña Errázuriz se classificou em primeiro lugar seguido pelo Seña 2001.
Nesta visita, que tive o prazer de estar acompanhado pelo jornalista Eduardo Milan, pelo export manager da empresa o Diego Rodrigue, a Susana Gonzales, e pelo “espírito engarrafado” do enólogo chefe de Seña, o estupendo profissional Francisco Baettig, e degustamos em pequena vertical, três safras, as de 2012-2013 e 2014.
Todos os vinhos espetaculares, e claro, aqui seguem minhas observações que lembro não foram coincidentes com as do Eduardo, no que toca á safra que mais agradou, ou melhor evoluiu.
Seña 2012- corte de 52% Cab. Sauvignon; 23% Carmenère; 12% Merlot; 7% Malbec e 6% Petit Verdot estagiando 22 meses em barricas francesas, sendo 70% novas. O vinho que atingiu 99 pontos James Sucklin. Frutado doce com especiarias, surgindo floral e mineral. Em boca boa acidez, as especiarias e o frutado presentes, um tanino impecável, longo em boca, e sutil mineral, lembrando grafite. Foi o meu favorito!
Seña 2013- corte de 58% Cab. Sauvignon; 15% Carmenère; 10% Merlot; 12% Malbec e 5% Petit Verdot estagiando 22 meses em barricas francesas, sendo 75% novas. O vinho que atingiu 99 pontos James Sucklin. Pimenta, frutado e algo de carne, aparecendo depois o floral e mineral. Em boca confirma o frutado, o tanino é mais evidente que o anterior, mas muito bom embora me tenha sugerido mais verde ainda! Foi o meu segundo favorito!
Seña 2014- corte de 60% Cab. Sauvignon; 16% Carmenère; 8% Merlot; 11% Malbec e 5% Petit Verdot estagiando 22 meses em barricas francesas, sendo 67% novas e outros 5% em foudres novos. O vinho que atingiu 97 pontos James Sucklin. Mineral mais evidente, pimenta e frutado bem maduro. Em boca sua acidez foi a mais notada e seus taninos espetaculares, confirma o frutado e é o mais longo em retrolfato dos três, mas ainda muito novo.
Na verdade não há muito o que dizer destes vinhos a não ser que são extraordinários, e que a nuance exigida em cada safra pelo enólogo é mágica, pois muda o corte, o estágio em madeira e tipo delas.
Obrigado pela adorável experiência que devo à Brandabout, e digo: quero voltar porque ainda há muitas vinícolas a visitar!
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão