Meninas e meninos,
Vinícola Lattarini em Santo Antônio do Jardim, uma jovem vinícola brasileira situada na Serra da Mantiqueira do lado paulista, no vale do rio Jaguari-Mirim, distante apenas 12 km de Espírito Santo do Pinhal, outro polo vitivinícola do estado.
Lattarini, sobrenome do patriarca Ângelo, que desembarcou no Brasil em 1897 trazendo a esposa, Carolina Arcaini, dois filhos, e algumas mudas de videira que em seus sonhos, formariam seu belo vinhedo na América.
Não deu certo. As mudas não resistiram ao logo período entre o embarque e a chegada em Mogi Guaçu na Fazenda Cataguá. Três gerações após, o sonho de seus ancestrais está se realizando agora com os primeiros rótulos da Vinícola Lattarini, que, aliás, leva a assinatura original transcrita de Ângelo, inclusive nas rolhas.
Degustei o Syrah 2021 resultante do método de dupla poda:
Dupla poda, ou poda invertida, ou vinhos de safra de inverno.
Esta técnica consiste em “adiar” a colheita que nas parreiras de viníferas é no verão. Como? Podando-as mais uma vez já em Janeiro, forçando a planta a recomeçar seu ciclo produtivo, que culminará com as frutas maduras no Outono-Inverno.
Com isto, os vinhateiros têm menos problemas em decorrência das chuvas, normais no verão brasileiro. Plantas mais saudáveis, com bom nível de açúcares, resultando em bons vinhos elaborados com estas frutas, e é o que acontece neste Sudeste Brasileiro, um novo terroir de dupla poda.
Com a consultoria do amigo enólogo Cristian Sepúlveda , que já tem muita experiência com a dupla poda, e com a enologia aos cuidados da enóloga Lara Simioni, a Vinícola Lattarini vem desenvolvendo seu projeto na Serra da Mantiqueira.
O vinho, um bom Syrah, e ao degustá-lo, percebi certas nuances olfato-gustativas que logo me levaram a pensar numa harmonização dessas que gosto, bem brasileiras e com texturas e sabores diversos.
O prato foi composto por costelinha suína, marinada em vinha d’alhos, onde o vinagre de vinho que eu mesmo faço, sempre é peça fundamental. Condimentos, todos os de praxe. Um toque de azeite extra virgem brasileiro, com o terroir da própria Serra da Mantiqueira é também bem vindo.
Também acompanhando o arroz branco, um tutu de feijão mais mole, quase mineiro, porém com feijões inteiros, bacon, condimentos para temperar, e um toque a mais, Merkén.
Merkén
O Merkén é um condimento picante, muito tradicional na culinária chilena, feito à base de uma pimenta típica chilena-aji- defumada, origem dos Mapuches, originalmente moída em pilões de pedra. Utilizei porque senti no Lattarini Syrah, tanto no olfato, quanto no palato, o picante da pimenta do reino, já utilizada na marinada, e o apimentado tostado, defumado, lembrando-me o Merkén.
Lattarini Syrah 2021.
Muita fruta no olfato, especiarias picantes, um tostado leve e sutil mineralidade que lembrou o grafite do lápis. Em boca, confirma o olfato, acidez ótima, equilibrado em taninos e álcool com 14,5%. O álcool foi um dos fatores que me levou à gastronomia escolhida, costelinha com sua graxa natural.
Uma das coisas que me chamou a atenção ao degustar o vinho foi um sutil amargor em final de boca, que em nada atrapalhou, ao contrário, lembrou-me alcachofras. Por esta razão, coloquei no prato folhas cruas de agrião, que são picantes e levemente amargas para compor a harmonização enogastronômica.
Gostei do vinho, e quem sabe uns dois anos mais de garrafa deixem o vinho mais complexo!
Parabéns à jovem vinícola Lattarini.
19 3654-2272
@vinicolalattarini
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão