Meninas e meninos,
Falar de vinhos é para mim um cotidiano há vinte anos.
Como sempre digo: gosto dos bons vinhos em geral, e dos bons vinhos brasileiros em particular, e vejam que não sou daqueles que dizem façam o que eu mando, mas não façam o que eu faço, muito ao contrário, não mando, peço!
Peço que degustem vinhos, cafés, chás, destilados, principalmente os que provêm de uvas que são incríveis, assim como é incrível o nosso destilado brasileiro, a cachaça, único destilado no mundo que tem a possibilidade de amadurecer em mais de 30 tipos de madeiras.
Quando nos propomos a degustar algo, o temos que fazer desprovidos de pré-conceitos, pois caso contrário, não comeríamos e beberíamos muita coisa boa, que á primeira vista, pode parecer pouco palatável.
Não estou particularizando nada, em absoluto, mas quero contar duas sensações pelas quais passei neste final de semana.
Ainda impossibilitado por ordens médicas de degustar umas boas taças de vinho, resolvi abrir um vinho brasileiro, vejam que nunca falo em vinho nacional, pois nacional não expressa origem, que guardava com muito carinho fazia anos, para ver sua evolução.
Gosto de fazer estas experiências e ir deixando para depois alguns vinhos que possam envelhecer bem e claro, os armazeno convenientemente.
Gosto da uva Ancellotta, que tem vinhos bem marcados, frutados sem muito exagero, ótima acidez.
Gosto da Merlot, que dentre as uvas nobres é considerada muito aveludada, embora em algumas vinificações e terroires, possa aparecer mais pujante em taninos.
Gosto da Cabernet Sauvignon no Brasil, principalmente aso provenientes da Campanha Gaúcha, mas que em anos muito bons, na Serra Gaúcha, vinifica otimamente.
O vinho que guardava era um Cordelier Equilibrium 2011, que a Fante Vinhos, Sucos e Destilados vinifica e engarrafa em Flores da Cunha, na Serra Gaúcha-RS.
Do site muito pobre que empresa, se lê:
Qual a origem do nome Cordelier?
Cordeliers era o nome francês dos monges franciscanos que, vestidos de forma bem modesta, usavam uma simples corda com nós como cinto (“corde lié” = corda atada), e que eram apreciadores de vinhos.
Mas, voltando ao nosso vinho, arrisquei muito, pois queria harmonizá-lo com uma bacalhoada by myself, e agradar muitos gostos distintos à mesa.
Preparei a gastronomia com o cuidado de colocar muitas especiarias, pensando sempre na Cabernet Sauvignon que aparece nominada em primeiro num corte com Merlot e Ancellota e sem os percentuais descritos, mas, via de regra, não é norma, a cepa que é nominada em primeiro lugar tem maior percentual no corte.
Sim coloquei pimentões, mas somente o vermelho, menos agressivo, pimenta do reino preta, salsinha e cebolinha desidratadas, pois não as tinha frescas, um pouco de limão para dar acidez ao prato e equilibrar sabores, cebolas e alho murchados em boa dose de azeite de olivas, vejam a expressão olivas no plural, pois assim me ensinou meu padrinho Silvio Lancellotti, depois forno para gratinar tudo e mergulhar sabores em todas as postas do peixe.
Quanto ao vinho, degustei meia taça, deixei-o respirar um pouco, pois chegou mais âmbar que rubi, mas com aromas deliciosos de um frutado elegante e especiarias diversas.
Logo chegou de volta ao rubi, na cor, e seus aromas com fumo e pimenta do reino me indicavam que a Cabernet Sauvignon, ao menos, passara por estágio em boa madeira.
A Ancellota estava ali, com sua boa acidez, o frutado equilibrado, já não tão exuberante pela idade, e a nobre Merlot dando sua contribuição de maciez e redondez ao corte completou o leque.
Antes de tudo devo dizer que harmonizar, e tenho falado e escrito muito à respeito, é muito pessoal, depende de fatores de aprendizado olfativo e gustativo, além de muito treino, mas em primeiro lugar vem a ocasião que tem que ser e estar harmônica, com as pessoas em harmonia, e prontas para testar algumas vezes harmonizações enogastronômicas menos convencionais.
O resultado obtido foi o fim do prato e o fim da garrafa de vinho, preciso dizer mais?
Fante Vinhos, Sucos e Destilados.
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão