Meninas e meninos,
Estive no Chile, mais especificamente no vale de Itata, uns 500 km ao sul de Santiago em Outubro deste ano para uma imersão em visitas às pequenas propriedades neste que é o berço do vinho no Chile, quando há mais de 400 anos se vinificam uvas fazendo vinhos.
Para se ter uma ideia, na passagem dos séculos 19 para o 20, a região de Itata foi responsável por mais da metade de todo o vinho produzido no Chile. Não quero afirmar sobre a qualidade do vinho à época, mas até bem pouco tempo, em nosso século e até mesmo destas últimas décadas até hoje, a produção era para apenas consumo familiar na maioria dos casos.
Pude observar bem de perto que em muitos casos os vinhateiros, com produções ínfimas, lutam com dificuldades que em muitos outros vales vitivinícolas não se encontram, e com cepas muitas vezes muito velhas, umas ainda com produtividade aceitável para sua condição, e outras nem tanto, precisando de revitalização por motivos de contaminações ou mesmo de trato inadequado.
Itata está a cerca de 500 quilômetros ao sul de Santiago, com mais frio e com gradiente maior, ou seja, podem as temperaturas varia facilmente de 8ºC ou 10ºC até 25ºC ou 30ºC.
Chove bem, portanto em geral, ao menos não vi pessoalmente, plantações com irrigação seja por inundação ou gotejamento, aliás, na época em que fui choveu muito mesmo.
As variedades que antes predominavam como a Moscatel Alexandria e a País estão sendo lentamente substituídas por variedades mais comercialmente conhecidas como poderemos observar no trabalho exposto para os jurados no Concurso Mundial de Bruxelas-Chile, do qual com orgulho fiz parte novamente, e transcrito neste texto.
Novas e velhas vinícolas, que potencialmente já estavam ou estão sendo preparadas com incentivos e apoios de organismos, e até mesmo cooperativas, como pude ver em Coelemo, estão apostando com sucesso no potencial das outras variedades, vinificando inclusive espumantes com qualidade, mas os chamados Pipeños, ou vinhos que ainda são vinificados à modo antiga com a cepa País, é uma boa parcela.
O que tem preocupado e muito ambientalistas e produtores-é o grande avanço de plantações de eucaliptos e pinos para a indústria de celulose- estima-se que a área plantada para esta indústria supere os 900.00 há- o que pode se transformar em grande problema para a produção de vinhos, empurrando os vitivinicultores para cada vez mais longe dos centros de escoamento e distribuição, onde que se costuma chamar de Itata Profundo, e como veremos abaixo no trabalho apresentado, para vinhas tínhamos em 2016 menos de 115 ha.
Pude participar de uma explanação feita pelo engenheiro agrônomo Jorge Leiva Valenzuela, “Viñas em La Región de La Araucanía”, proveniente de um trabalho apresentado por ele e por Oriana Soto para a Corporación Agencia de Desarrollo de La Araucanía em Dezembro de 2016, onde expos em modo geral, um pouco do panorama que encontramos nesta região, e ainda com muito pouco conhecimento dos interessados no setor, e mesmo dos enófilos que tanto se interessam pelos vinhos chilenos.
No trabalho citado os autores procuraram identificar os setores com potencial para estabelecimento de plantações de videiras e tipos de viticultura existentes na região:
Categoria Viticultores na região Superfície em ha
VA=Vinha Ancestral 13 6,1
VE=Vinha experimental 13 8,1
VCV=Vinha Comercial e Vinho 10 71,8
VCU=Vinha Comercial Uva 3 3,1
VF=Vinha em Formação 14 14,2
VAB=Vinha Abandonada 4 7,8
Viveiro 1 1,2
Total 58 112,1
Também foi listada no excelente trabalho a quantidade em ha de cepas de uvas plantadas na região:
Pinot Noir cerca de 40; S. Blanc=5; Chardonnay=51; País=6; Cabernet Sauvignon=1; Moscatel de Alexandria=1; Syrah=0,5; Outras=4.
As cepas Torontel e Cinsault menos de 0,5ha
Itata merece e precisa ser mais conhecida, em que pese a falta de estrutura para o enoturismo, que via de regra ajuda e muito a desenvolver a região, podendo com isto mostrar seus belos vinhos, sejam eles Pipeños ou não, mas tendo qualidade como pude observar nas visitas que fiz.
A enorme maioria das vinhas ainda é trada organicamente, como se fazia ancestralmente, sem mistério, com seus bisavós e avós cultivando as parreiras e os alimentos com o que dispunham ao seu alcance, sem necessidade das intervenções químicas.
Ainda volto ao tema Itata mostrando algumas das vinícolas que visitei e seus vinhos.
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão