Meninas e meninos,
Economia que dá ressaca por Marianne Piemonte foi título que dei para uma matéria que segue abaixo na íntegra, extraída da Revista Veja Revista Veja e assinada por Marianne Piemonte-até o sobrenome é de região vitivinícola- sobre os perigos dos vinhos falsificados e ou contrabandeados.
As fotos estão no texto original da Veja, apenas o título e a capa desta transcrição no site Divino Guia são meus, e desde já parabenizo a revista e a autora pela matéria de grande interesse para os apaixonados por vinhos.
Segue na íntegra o texto com fotos
“Economia” que dá ressaca na certa: os perigos dos vinhos falsificados
- Consumidores caem no conto das super-promoções e levam gato por lebre
- Por Marianne Piemonte Atualizado em 4 ago 2023, 19h01 – Publicado em 4 ago 2023, 18h53
Turistas brasileiros que estão invadindo a Argentina impulsionados pelo câmbio favorável começaram a cair numa arapuca portenha. Iludidos por super-ofertas nas prateleiras de vinhos de lojas suspeitas, levam para casa, sem saber, rótulos falsificados. Resultado: perdem dinheiro e correm o risco de curtir uma tremenda ressaca.
Uma das que caíram no conto da pechincha “muy amiga” foi a engenheira Isabella M., de 31 anos. Em férias com a família em julho deste ano, ela deparou-se com valores irresistíveis de alguns ícones da viniviticultura argentina: um Catena Zapata (Malbec Argentino – Safra 2019) por 19.000 pesos ou R$ 330. Aparentemente, um golaço etílico. No Brasil, segundo o site da importadora Mistral, o mesmo vinho é vendido a R$ 1.270,70. Outra barganha, na mesma loja pertinho da Corrientes, avenida dos teatros e cinemas da cidade, um Gran Enemigo (Vineyard Gualtalarry) 2019, que no Brasil custa R$ 878,85, estava pelo equivalente de R$ 110.
Isabella não resistiu: arrematou as duas garrafas, guardou no hotel e foi comemorar o “grande negócio” em um jantar com a família. Na mesa, um tio pediu um Catena Zapata, comprado ali no restaurante por seis vezes maior o valor que ela havia gasto há pouco na tal loja suspeita. Desconfiada, Isabela resolveu fotografar o rótulo. Enquanto digeria seu ancho mal passado, começou a comparar os rótulos e acabou quase com uma indigestão: “Percebi que no rótulo do Catena Zapata do restaurante havia um relevo e o teor alcóolico do vinho também estava diferente daquela garrafa que eu havia comprado na loja. O que eu comprei dizia 13,9% e, na ficha técnica do vinho, no site da vinícola, consta 14%. No Enemigo, a textura do rótulo também parecia bem diferente”.
Depois de cair na real, Isabella voltou à loja para reclamar da arapuca, mas a atendente, na maior cara de pau, alegou que não poderia receber de volta a “mercadoria de luxo”. A brasileira vítima do 171 argentino tentou também contato com as duas vinícolas, que ainda não responderam suas mensagens. “Sei que me empolguei, porque que estavam muito baratos, mas acho que as marcas também são responsáveis”, diz Isabella.
Fonte segura
Vale alertar que esse tipo de golpe não ocorre apenas na Argentina. Há algumas semanas, um post do Rodrigo Malizia, CEO da Cellar Vinhos, trazia uma foto, que alguém enviou para ele, de um Don Melchor (Merlot – Safra 2018), avaliado com a nota 4.3 pelo aplicativo Vivino, custando R$ 500. Com seu jeito carioca, e cheio de razão, ficou muito bravo. Motivo: este vinho não existe! Alguém comprou uma falsificação, postou num aplicativo que não tem chancela ou curadoria alguma. Como ele mesmo diz, trata-se de um “Trip Advisor bem piorado” e que muita gente leva a sério na hora de pesquisar vinho. Em tempo: Dom Melchor é um vinho chileno icônico, da região do Vale do Maipo, símbolo da vinícola Concha y Toro, que tem como uva símbolo a Cabernet Sauvignon.
Se alguém apostou que o Brasil não podia ficar de fora dessa onda de picaretagem etílica, acertou em cheio. Não são raros os casos de apreensões de cargas de vinhos de baixa qualidade por aqui destinados a abastecer fábricas de fundo de quintal. Nesses locais, os “bandidos enólogos” aplicam colocam sobre essas garrafas os rótulos que imitam os de alguns grandes vinhos importados. “O brasileiro está com percepção equivocada, pagando R$ 100 em vinho de descaminho, em uma garrafa que deveria custar R$ 300. Assim, ele atropela todas das pessoas que trabalham na cadeia e também acaba no prejuízo”, diz Gabriel Raeli, sommelier e embaixador dos vinhos do Alentejo no Brasil. Além disso, os produtos atentam contra a saúde, pois as substâncias colocadas nesses clones passam longe da categoria inofensiva.
A regra de ouro para não curtir essa ressaca é desconfiar das superpromoções. Qualquer produto com etiqueta 40% abaixo do valor do mercado é ressaca certa. Jesus transformou água em vinho, é verdade, mas não surgiu mais ninguém capaz de fazer o milagre de criar uma pechincha desse tamanho.
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão